6 de Maio, 2021

Devemos conhecer os nossos heróis?

Na manhã 17 de Abril de 2021, estava um pouco entusiasmado, era dia de finalmente conduzir um produto GT da Porsche com o à-vontade que sempre quis, qualquer pessoa que acompanhe as minhas redes sociais sabe o que isso significa para mim, é o meu carro de sonho, não sei qual em específico, mas sei que é um Porsche GT3, seja ele 996/7/ 991 ou 992, GT3, RS ou Touring. Eventualmente vou ter um.

Hoje conto-vos a minha experiência com o Porsche 911 991.2 GT3 Touring, se lerem o nome em voz alta é tão comprido que quase que cospem um pulmão, o carro era amarelo, tinha umas jantes da RUF de 5 raios lindas e a silhueta inconfundível de um GT3, o para-choques mais perto do chão, mais largo, duas ponteiras de escape ao centro, GT3 Touring numa pequena placa atrás e um autocolante no vidro a relembrar que este é o novo motor 4.0 com 500 cavalos. Aliás, por mim começamos já por aqui, se em Bolonha e em Modena se diz que são cavalos puro sangue Italiano, na Porsche temos competência 100% alemã, os 500 cavalos mais desafiantes que alguma vez experimentei.

Estávamos no topo da Estrada Nacional 304. Sol, piso seco, 17:30, a não ser que quem está a ler seja polícia, se for, estávamos no Autódromo do Estoril... bem, o proprietário do GT3, depois de percorrer a estrada pergunta se eu quero ir então conduzir o carro, imediatamente corri para a porta estilo um miúdo que vai para a árvore de natal, abri a porta, vi os bancos desportivos em fibra de carbono, um volante de 3 braços e uma alavanca com os números de 1 a 6 em cima e o “R” de rapidíssima.

A posição de condução é excelente, tenho boa visibilidade da frente, já está tudo ajustado, pergunto se posso levar o carro com os settings mais desportivos e vamos embora!! O dono do Porsche pergunta se sou capaz de fazer o maior party trick de conduzir uma caixa manual, ponta-tacão, sem falhar numa condução mais agressiva, respondi que sim e pronto, está off, a posição dos pedais é excelente, estou a começar a descer a estrada e a habituar-me ao comportamento do carro. Senti automaticamente duas coisas, a alteração no setup de suspensões na traseira para compensar a falta da asa é notável, ela está bem amarrada ao chão e a frente ainda foge como é de esperar num 911, que máximo, era mesmo o que queria!!

Cada vez que acelerava no carro mais entusiasmado eu ficava, a nota de escape é maravilhosa, o carro acelera até às 9000 rotações por minuto, ainda ia eu descobrir o quão viciante isso é, os 500 cavalos fazem-se sentir bem e o facto de ser atmosférico também, a entrega de potência é mesmo até ao fim do regime do motor, o carro acelera que é uma coisa doida e eu como sou trengo estou a trocar às 7600/7800 rpm mais ou menos, o dono diz que é para puxar até ao fim e aproveitar. Eu ainda estava meio receoso.

Já desci que chegue na N304, uns bons kms, senti a eficiência da travagem, habituei-me à rotação que o carro faz e estou familiarizado com os downshifts, estrada acima para aproveitar.

Subi o ritmo, na primeira reta grande finalmente puxei até as 9000 rotações, que som e que adrenalina contagiante, tinha a 2ª engatada, uma reta comprida, acelerei a fundo, aquilo anda como se não houvesse amanhã, pum, 9000, 3ª, acelera, acelera, acelera... curva, trava bem, ponta tacão, 2ª, aponta à curva e acelera, a frente foge... pois, isto não deixa de ser um 911. Saímos de gás, curva seguinte, a segunda é longa, nem deu para a esticar até ao fim novamente, trava bem, leva o carro afunilado até meio da curva, precisamos de Grip na frente, acelera novamente... e o motor a gritar... não sei como vos descrever esta sensação, novamente, como na seção anterior, berrar até às 9000, trocar de caixa, acelerar mais um pouco, travar, deixar a frente no chão e sair da curva sem varrer eheheheh. Foi sempre assim, o motor grita tanto, a caixa manual é essencial, a PDK é eficaz, muito eficaz, muito mais rápida, mas um GT3 está tão bem construído e desenvolvido que ainda faz sentido uma caixa manual com 500 cavalos, tão contagiante, uma condição tão interativa, foi a subir a serra até ao ponto onde estavas os nossos colegas de road trip. O GT3 gritava e ecoava pelas paredes, o dono do carro apesar de meio preocupado, vibrava com o carro quando lá estávamos nos altos regimes e num instante, os 20mins que demoramos a descer, foram 5 para subir, não me acredito que já tenho de devolver a chave.

Quando saio do carro e fico a admirar, com um sorriso de orelha a orelha, todos perceberam o quão especial foi para mim conduzir aquele carro, o primeiro comentário foi do meu amigo Gonçalo, “Tu vinhas a tirar tudo do carro, ainda nem te víamos e já ouvíamos, parece que anda um carro de corrida pela serra, impressionante!”

Não há nada como um GT3, há mais barato, há mais caro, mais rápido, mais luxuoso, há mais bonito... tudo o que quiserem, mas um pacote como o que o GT3 entrega, não há mesmo mais nada!

Obrigado a todos os Genisios por tornarem o “André Garage” algo assim relevante, de maneira a que eu tenha estas oportunidades e ao proprietário do carro por me deixar meter as mãos naquele volante e aproveitar o melhor carro que alguma vez conheci, perguntam se devemos conhecer os nossos heróis, eu hoje digo que sim!